Microrradiografia

A micro, como se dizia vulgarmente, era um meio do rastreio alargado no nosso país e que todos conheciam até há cerca de 50 anos.

Usada sobretudo no rastreio de massa da tuberculose, permitiu, em meados do século passado, quando a capacidade dos serviços de saúde era muito reduzida, acelerar o diagnóstico precoce dos casos dessa doença que era ainda causa de enorme mortalidade. Com medicamentos eficazes já nessa altura, o diagnóstico permitia iniciar o tratamento, conseguir a cura e reduzir os efeitos secundários de tuberculose muito extensa que era frequente.

A microrradiografia, com a impressão da imagem numa película fotográfica de pequena dimensão (7x7cm), tornou o exame radiográfico do torax muitíssimo mais barato e de fácil execução; foi possível ter viaturas equipadas que levavam o Rx a qualquer povoação e as campanhas de radiorrastreio desempenharam um importante papel por todo o mundo. Em Portugal, todos conheciam as carrinhas do rastreio da tuberculose.

Estes rastreios e a existência de tratamento disponível e eficaz, foi rapidamente mudando o panorama epidemiológico da tuberculose; simultaneamente, a capacidade dos serviços de saúde foi aumentando, e Centros de Saúde e Hospitais foram sendo cada vez mais capazes de responder às necessidades da população. Embora se mantendo ainda, por décadas, um importante problema de saúde pública, a tuberculose passou a poder ser detectada nas consultas: quem tem sintomas suspeitos (tosse e expectoração arrastadas e quebra do estado geral), pode ir a uma consulta e o diagnóstico pode ser efectuado; com estas condições, o radiorrastreio de massa deixou progressivamente de se justificar, apenas se usando em casos de surtos localizados.

A microrradiografia, que teve esse papel fundamental na luta contra a tuberculose, é designada no Brasil por abreugrafia. Sendo utilizados os Rx desde a sua descoberta por Roentgen em fins do século XIX, esta adaptação técnica foi descoberta por Manuel Dias de Abreu, nascido em 1892, filho de pai minhoto, imigrado, e mãe paulista. Trabalhou sempre ligado às técnicas de imagem e, só ao fim de mais de uma década de ensaios ? em 1936 ? consegue obter uma imagem com qualidade suficiente da sua radiofotografia. Esta descoberta teve imediata aplicação prática a nível internacional e permitiu um avanço enorme para o diagnóstico precoce da tuberculose e, complementarmente, de outras patologias do torax.

Se hoje nos deslumbramos com os avanços da técnica, vale a pena relembrar avanços científicos passados que marcaram positivamente a vida humana.

Artigo publicado em "A voz dos reformados" setembro/outubro 2022
por Dr. José Miguel Carvalho


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