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Apneias do Sono

Por Monteiro Ferreira


  • Ressonar é normal?

    Não é normal, nem para crianças, nem para adultos, apesar de mais de 50% das pessoas ressonarem. 

  • Porque ressonamos?

    Porque a dormir a respiração é diferente, com os músculos mais relaxados, especialmente nas vias aéreas superiores. Ressonar significa que o ar tem dificuldade em passar naquelas vias (nariz, faringe), habitualmente por obstrução. Tudo o que facilite essa obstrução (por exemplo, dormir de barriga para o ar (decúbito dorsal), excesso de peso, álcool, certos medicamentos, tabaco, nariz obstruído por ?constipações? ou alergias), facilita que se ressone. Ressonar pode ser o primeiro sinal de problemas respiratórios muito sérios durante o sono. Quando acordados, se tivessemos dificuldades idênticas resolvê-las-iamos logo porque estamos conscientes. A dormir, como estamos inconscientes, não sabemos o que acontece. É por isso que, frequentemente, os ressonadores estranham ou não aceitam quando se lhes diz que ressonam.

  • É grave ressonar?

    Pode ser grave para o ressonador se, além de ressonar, tiver apneias do sono. Neste caso, o importante deixa de ser ressonar e passa a ser a alta probabilidade de complicações das apneias do sono de que se realça a hipertensão arterial, angina de peito, enfarte do miocárdio, morte súbita e acidentes, de viação e de trabalho.

  • E o que são apneias do sono?

    Apneia significa suspensão momentânea da respiração (do grego, ápnoia, «falta de respiração»). Durante o sono podem ocorrer estas paragens, principalmente por as vias aéreas superiores se fecharem e não deixarem passar o ar. A já referida inconsciência do sono não permite ter uma noção correcta de quantas vezes se pára de respirar, nem por quanto tempo, nem o que acontece depois. Quanto mais tempo se estiver sem respirar, mais graves são a descida de oxigénio e a subida do anidrido carbónico, que é tóxico, no sangue. A maior parte das apneias só termina quando a pessoa acorda por breves instantes, com elevações significativas da frequência cardíaca e da tensão arterial. A maior parte destes ?alertas?, de poucos segundos, não são nem apercebidos, nem recordados. Por noite, uma pessoa pode ter centenas de apneias e acordar centenas de vezes. Portanto, uma pessoa pode estar muito doente com apneias do sono e não sabe.

  • Que sinais e sintomas devem fazer pensar que se pode ter apneias do sono?

    - Ressonar intenso
    - Sonhar muito
    - Cansaço ao acordar
    - Sentir sono facilmente de dia
    - Adormecer facilmente onde e quando não deve
    - Ter hipertensão arterial
    - Ter excesso de peso

  • Como se pode ter a certeza se só se ressona ou se se tem, também, apneias do sono?

    Só através de um exame apropriado que se chama POLISSONOGRAFIA. É um exame durante uma noite inteira de sono tão natural quanto o das outras noites, ou seja, não se dão medicamentos para dormir, mas os doentes podem tomar os medicamentos habituais. Este exame analisa muitos dados, principalmente, a actividade do cérebro (electroencefalograma), dos músculos (electromiograma), dos olhos (electrooculograma), o electrocardiograma, a respiração, os níveis de oxigénio no sangue, o ressonar, a posição do corpo. Este exame é feito mais frequentemente nas instalações das clínicas e hospitais, em laboratório próprio, permanentemente assistido por técnico devidamente preparado.

    Há um outro exame, mais simples, chamado REGISTO CÁRDIO-RESPIRATÓRIO que, como nome diz, se limita a obter elementos sobre a respiração e o funcionamento do coração. Dá menos elementos, é menos rigoroso. Por exemplo, não se sabe quando o doente está a dormir ou acordado. Tem a vantagem possível de poder ser feito em casa do doente, sem o acompanhamento técnico. 

  • Há tratamento para o ressonar e para as apneias do sono?

    Há. Porém, antes de se referir os tratamentos mais específicos, deve-se considerar que há medidas gerais a respeitar:


    - Reduzir o peso se tiver excesso de peso ou obesidade;
    - Não tomar álcool depois da hora do almoço para este não actuar no sono;
    - Ter cuidado com medicamentos calmantes ou para dormir porque muitos pioram o ressonar e as apneias do sono;
    - Não deixar por resolver problemas de saúde que dificultam a respiração.


    Depois destas orientações, os tratamentos podem ser:
    1. Para o ressonar simples, depois de se esclarecer por exame ao sono que a pessoa só ressona e não tem apneias do sono, é possível que, considerando sempre as medidas gerais referidas acima e depois de estudadas as possíveis alterações das vias aéreas superiores, o problema fique (bem) resolvido com operação às vias aéreas superiores. 

    2. Para as apneias do sono, a sua gravidade devidamente avaliada indica o tratamento que, além do mais geral, pode chegar a incluir a aplicação de um ventilador (ventiloterapia). As apneias, o ressonar e todas as suas consequências ficam praticamente resolvidas na maioria dos casos. 

    Os tratamentos cirúrgicos são tão mais insuficientes quanto é mais grave a doença. 

    Resumidamente, se não há condições que garantam que alguém a dormir respire normalmente, há que usar aquilo que resolva esse problema e isso pode ter que ser a ventilação que fornece ar ambiente a uma pressão suficiente para impedir que as vias aéreas se fechem.

    O meio mais correcto para escolher essa pressão é durante a polissonografia. Aí, quem assiste o exame pode confirmar directamente qual a pressão a que todas as alterações do sono desaparecem. Essa deve ser a pressão a receitar ao doente. Todos os doentes são diferentes, as pressões devem ser personalizadas. 

    Outro modo de receitar este tratamento é por ventiladores automáticos que, em princípio e às cegas, conseguem controlar as alterações respiratórias. É um método menos rigoroso, tem resultados bons em muitos casos, mas não consegue garantir uma tão boa evolução dos problemas cardíacos e vasculares ao longo dos anos.

    Nas crianças, como a maioria dos problemas de ressonar e de apneias do sono são consequência de aumento das amígdalas e das adenóides, a operação a estas estruturas resolve mais de 90% dos casos.

  • O que é, afinal, o sono?

    O sono é um comportamento natural e inultrapassável. É a única função fisiológica verdadeiramente inadiável porque basta não dormir uma noite para haver sinais de privação de sono. À medida que se acumula a necessidade de dormir, mais facilmente se pode adormecer, sem querer, por exemplo, a conduzir. 

    O sono é constituído por grandes mudanças no funcionamento de todo o organismo, especialmente relacionadas com a diferente actividade do cérebro. Podem identificar-se quatro fases do sono diferentes. Uma em que se sonha mais intensamente e em que há movimentos dos olhos e que se chama REM (do inglês Rapid Eye Movements) e três (Fase 1, 2 e 3), sem estes movimentos, e que são agrupadas no sono chamado NREM (NãoREM ? sem movimentos rápidos dos olhos). Durante uma noite de sono estas fases repetem-se em ciclos NREM ? REM. O descanso que se sente depois de dormir é o resultado da satisfação das necessidades de cada um. Durante o sono ocorrem muitas funções importantes tais como secreção de hormonas, controlos do apetite, dos metabolismos, da imunidade, da fixação de memórias, estabilização psíquica e emocional, entre muitas outras.

  • Dormir de dia é o mesmo que dormir de noite?

    Não, é diferente. O período em que naturalmente o ser humano deve dormir é à noite. Por isso, quando se é forçado a dormir de dia (por exemplo, trabalho por turnos), é necessário respeitar algumas regras para reduzir as consequências de um sono fora do normal.

  • Como resumir tudo o que se disse acima?

    Qualquer criança ou adulto deve saber que não é normal ressonar, que ressonar pode ser o sinal de alarme de uma doença grave, que deve ser esclarecida por pessoas experientes, por meios correctos, para obter uma orientação de tratamento correcto e eficaz.

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