Homenagem a Stephen Hawking

Nos últimos quinhentos anos quatro nomes destacaram-se na História da ciência: Nicolau Copérnico, Charles Darwin, Sigmund Freud e Albert Einstein. Todos eles abriram novos caminhos no conhecimento científico.

Copérnico, com o seu sistema heliocêntrico, retirou a Terra do centro do cosmos, dando essa centralidade ao sol, acabando com conceitos errados que vinham de há mais de dois mil anos, do tempo de Aristóteles.

Darwin, depois da sua viagem de cinco anos a bordo do Beagle, escreveu a "Origem das Espécies", na qual advogava que todas as espécies evoluíram a partir de ancestrais e que essa evolução se baseava na adaptação ao meio. Não eram os mais fortes que prevaleciam, mas sim os mais adaptados.

Freud mostrou-nos a mente humana com uma complexidade até aí desconhecida, com alçapões profundos, influenciadores decisivos dos nossos comportamentos, com os sonhos a desvendá-los.

Einstein foi o génio do século XX. Com as suas teorias da relatividade contribuiu de uma forma inovadora para uma nova compreensão da constituição e funcionamento do universo.

Todos eles pertencem à galeria dos gigantes, na qual se incluem tantos outros nomes, como os de Galileu, Kepler, Newton ou Pasteur; todos eles contribuíram para a decifração do código oculto da natureza.

No passado dia 14 de Março, no dia em que se comemoravam os 139 anos do nascimento de Einstein, faleceu Stephen Hawking. Tinha nascido a 8 de Janeiro de 1942, dia em que se celebravam os 300 anos da morte de Galileu. Contra todas as expectativas faleceu aos 76 - já iremos ver porquê - curiosamente a mesma idade com que faleceu Einstein.

Hawking foi um dos mais reputados físicos que se notabilizou em astrofísica porque desde sempre "queria entender como funcionava o Universo; saber de onde vínhamos e porque estamos aqui".

Nos estudos, tal como Einstein, não evidenciou qualidades que o distinguissem. A uma péssima caligrafia somava-se o desmazelo nos trabalhos escolares. Não gostava de matemática porque lhe era demasiado fácil. Porém, alguns dos seus colegas alcunharam-no de Einstein, talvez porque se tivessem apercebido do seu enorme potencial.

Stephen Hawking foi considerado um dos mais ilustres cientistas do século XX. Abriu caminhos naquelas duas áreas em que a teoria da relatividade geral de Einstein não funciona e a que apelidamos de singularidades: o começo do universo - o Big Bang - e aquelas estruturas ainda tão enigmáticas a que chamamos de "Buracos Negros". Fica para sempre ligado a estas estruturas do Universo, com descobertas que passam para a posteridade com o seu nome: a "radiação de Hawking" ou a "Fórmula de Hawking" que ele pediu que ficasse gravada na sua lápide.

Ainda dentro da sua atividade, uma nota para a sua invulgar capacidade de divulgação científica, realizada através dos diversos livros publicados, com realce para aquele que seria o seu mais importante best-seller " Breve história do tempo: do Big Bang aos buracos negros", publicado em 1988.

Mas o aspeto mais saliente na vida deste cientista não terá sido o seu elevado estatuto científico, mas sim, a sua extraordinária condição humana.

Aos 21 anos foi-lhe diagnosticada uma doença neurológica degenerativa - esclerose lateral amiotrófica - doença incurável, associada a uma esperança de vida de não mais de cinco anos. Era, então, previsível que Stephan Hawking não ultrapassasse os vinte e cinco anos de vida. Ele soube fintar esse prognóstico médico durante os 50 anos seguintes.

À medida que a doença ia paralisando os seus músculos, ele foi-se adaptando; primeiro, com a cadeira de rodas que lhe permitiu continuar a deambular, viajando por todo o mundo, chegando a andar de balão de ar quente, fazer um voo de gravidade zero e ir à Antártida; depois, quando a paralisia atingiu as cordas vocais, passou a comunicar através de um sintetizador de voz que acionava com um piscar de olhos ou com o movimento dos músculos da bochecha, únicos músculos que ele controlava. A cadeira de rodas e sua voz robótica eram a sua imagem de marca e a sua voz eletrónico chegou a ser usada numa canção dos Pink Floyd: Keep Talking.

Stephen Hawking era um ser excecional. Lutador, otimista, com um sentido de humor invulgar, deixa-nos muitas lições. Umas, de natureza científica que nos ajudam a entender melhor a nossa casa, o Universo. Outras, de natureza humana, sobretudo na luta contra a adversidade e na superação dos obstáculos que teve de enfrentar e vencer durante a vida. Só não superou a morte. Aqui, foi igual a qualquer outra pessoa.

Artigo por Jaime Pina


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