Apelo ao rasteio do cancro mais letal do mundo

Cancro do Pulmão

Excelentíssimo Sr. Ministro da Saúde, Doutor Manuel Pizarro

Com conhecimento de:
Excelentíssimo
 Sr. Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Excelentíssimo Sr. Primeiro Ministro, Doutor António Costa
Com conhecimento das entidades:
Fundação Champalimaud| Fundação Portuguesa do Pulmão | Ordem dos Médicos | Jornal Expresso | Jornal Público

Apelo ao rasteio do cancro mais letal do mundo ? Cancro do Pulmão

Chamo-me Filipe Paixão e fui recentemente diagnosticado com Cancro do Pulmão, estágio IV, aos 36 anos de idade no passado dia 7 de outubro de 2022.

Não sou, nem nunca fui fumador, nem nunca tive nenhum comportamento de risco que pudesse prever este diagnóstico. Não sou fumador passivo, não trabalho em ambientes de fumo, e não resido em ambientes poluídos, vivo no campo.

Basicamente onde quero chegar é que não pertenço a nenhum grupo de risco, e tive a infelicidade de ter este diagnóstico. Os profissionais com quem me cruzei partilham a mesma opinião, a conclusão é que de facto isto pode acontecer a qualquer um e em qualquer faixa etária.

Factos:

·O cancro do pulmão é o mais letal de todos. É mais letal do que o cancro da mama, próstata e colon todos juntos.

·Um diagnóstico prematuro aumenta exponencialmente as hipóteses de tratamento.

·O cancro do pulmão é silencioso e na maioria dos casos apenas é detetado já em estágio avançado.

·Os únicos rastreios oncológicos que existem, são cancro de mama, colorretal e colo do útero.

( fonte https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-oncologicas/rastreios-oncologicos )

Sendo o Cancro do Pulmão comprovadamente o cancro mais letal de todos e com base nos factos enumerados porque é que não estão previstos rastreios periódicos à população? Existe uma justificação?

Eu próprio já fiz alguma investigação para tentar perceber o motivo, pedi e deram-me algumas opiniões, de um modo geral o cancro do pulmão está na sociedade visto como um cancro em que os doentes são os próprios culpados da doença, as respostas são tipicamente ?se tem cancro do pulmão deve ser fumador, devias ter sido mais prudente?, entre outras respostas semelhantes.

O que não está correto, porque há muitos doentes como eu, sem comportamentos de risco. Além disso mesmo com comportamentos de risco ninguém merece morrer. Além dos alertas presentes nos maços de tabaco, deveriam ser tomadas outras medidas para sensibilizar toda a população.
De uma forma geral o cancro do pulmão está associado a comportamentos de risco, tipicamente fumadores, e infelizmente algumas pessoas mais cruéis da sociedade até acham que até é feita ?justiça? quando o cancro é diagnosticado. Este pensamento, além de cruel e injusto, é completamente errado.

Na verdade, eu não pretendo uma resposta a estas questões, e também não estou a culpar ninguém até porque entrou em funções de ministro da saúde recentemente. Pretendo é que melhore a saúde!

O meu objetivo é sensibiliza-lo para esta questão e pedir-lhe para atuar rapidamente sobre este tema.

Não pretendo ajudas, protagonismo, nem um diagnóstico precoce, pois já seria tarde demais para mim, mas peço-lhe, em nome de todos os futuros possíveis doentes oncológicos, que inicie um plano de rasteiros para o cancro do pulmão, tal como os que já existem para os cancros menos graves, que não desvalorizo.

Antes do meu diagnóstico eu só ouvia falar do cancro da mama, é praticamente o único divulgado e também o único em a sociedade está sensibilizada para apoiar. As pessoas precisam de saber a gravidade do cancro do pulmão, e também que pode afetar qualquer pessoa, em qualquer faixa etária, mesmo sem comportamentos de risco. Refiro-me a crianças ou adolescentes não fumadores, por exemplo.

Naturalmente, não será possível fazer o rasteio a todos os portugueses, pois haverá sempre constrangimentos de logística e económicos, mas é fundamental começar a fazer alguma coisa. 

É necessário identificar os mais prováveis, mas também ir mais à frente, incluir talvez a obrigatoriedade deste rasteio na medicina no trabalho que é um canal já existente. Quiçá fazer exames a descendentes de pessoas diagnosticadas mesmo que estes não pertençam a nenhum grupo de risco, mas sim por causa da possibilidade da hereditariedade, entre outros exemplos que os especialistas da área haverão de identificar melhor que eu, que não tenho conhecimentos de medicina, sou leigo na matéria.

Onde quero chegar é que a elegibilidade para o rasteio de cancro do pulmão não deve ser apenas limitado a fumadores, ou a pessoas com idade mais avançada.

Não podemos continuar a ignorar o cancro mais letal de todos e apoiar apenas os menos graves, temos de começar a fazer a prevenção do cancro do pulmão o mais rápido possível.

Para além disso, numa perspetiva económica, o investimento na prevenção e diagnóstico precoce vai-se refletir numa poupança a longo prazo em cuidados mais dispendiosos necessários no cancro numa fase mais avançada. Vão existir menos camas de hospitais ocupadas, menos saturação no SNS, menos medicação, etc.

Já para não falar numa poupança ainda mais valiosa, vidas humanas, pessoas!

Peço-lhes que não ignorem este apelo, e que levem muito a sério a questão para o qual vos estou a tentar sensibilizar, infelizmente isto existe e é muito real!

Têm que se tomar medidas e vossas excelências são os únicos com poder para mudar alguma coisa, está nas vossas mãos! A decisão é vossa, e foi por isso que os portugueses confiaram em vocês e vos elegeram.

Sei que estão bastante preenchidos com a pandemia que defrontamos e ainda estão a enfrentar uma crise no Serviço Nacional de Saúde, uma inflação na economia sem precedentes, uma enorme crise energética, enfim, e como se tudo isto não fosse suficiente também temos uma guerra sem justificação.

Mas não permitam que exista esta enorme lacuna na saúde, trata-se do cancro mais letal do mundo!

Antecipadamente grato pela atenção prestada,
Cumprimentos,

Filipe Paixão


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