Animais de companhia. Nem tudo são virtudes

No nosso país, em mais de metade dos lares existe, pelo menos, um animal de companhia. São mais de 6 milhões, o que torna Portugal num país pet-fiendly - amigo dos animais.

Os cães "há quem os considere o melhor amigo do homem", com a sua tão característica fidelidade, estão em maioria, correspondendo a 65% de todos os animais de estimação. Os gatos, com a sua beleza e independência, estão em segundo lugar, correspondendo a 39%. Em 8% dos lares coabitam cães e gatos.

Esta realidade tem tal expressão, que aparece abordada em numerosas obras literárias e músicas, como por exemplo a recente versão da antiga canção dos "Filarmónica Fraude", "Animais de Estimação", agora cantada com enorme sucesso pelos "Ala dos Namorados".

Ter um animal de estimação pode trazer inúmeras vantagens, ao nível da autoestima, autodisciplina, responsabilidade, comunicação e, sobretudo, transação afetiva. Em muitos lares o animal torna-se em mais um elemento da família. Mas, nos doentes alérgicos, estas vantagens podem ter como contrapartida, doença.

Para um doente alérgico aos epitélios dos animais (cão, gato, cobaio, hamster, coelho ou pássaros) o risco de coabitar com estes animais domésticos é enorme. Crises de inflamação da pele, do olho, do nariz, da faringe e de todo o restante aparelho respiratório (laringe, traqueia e brônquios) são a regra, gerando muito incómodo, doença, que por vezes pode ser grave e obrigar a recorrer ao hospital, como por exemplo, crises de asma brônquica.

E não se pense que o problema reside, apenas, na caspa ou nos pelos destes animais; proteínas existentes nas suas glândulas sebáceas, na saliva e na urina são, também, importantes determinantes da doença alérgica. É também na pelagem destes animais que se multiplicam os ácaros do pó da casa, pelo que, muitas vezes, as duas alergias se interpotenciam.

Que fazer? É consensual que os doentes alérgicos não devem coabitar com os animais aos quais são alérgicos. Após a comprovação diagnóstica - que pode ser feita através de análises ao sangue e testes cutâneos - o animal deve ser afastado, e, mesmo assim, muitas vezes, o problema não se resolve de imediato. Por exemplo, relativamente ao gato, considerado o animal mais alergizante, 20 semanas após a saída do animal da habitação, e mesmo após uma limpeza rigorosa, as suas proteínas alergizantes permanecem no meio ambiente, sendo possível encontrá-las no colchão até 5 anos após esse afastamento.

Para aqueles que recusam tal solução, a higienização permanente do animal, a interdição do acesso do animal à parte íntima da casa, uma boa ventilação da habitação, uma higienização permanente e uma aspiração eficaz (com um aspirador de elevada eficiência), são medidas alternativas que minimizam o problema.

Também não esquecer de retirar da habitação, equipamentos que contenham epitélios desses animais, tais como tapetes ou cobertores de lã, edredões e almofadas de penas.

Um doente alérgico não deve ter animais de pelo ou aves dentro da sua casa. Se houver muita vontade em tê-los, ou se houver necessidade de promover a ligação afetiva do doente a um animal, os cágados, as tartarugas ou os peixes podem ser alternativas válidas e não prejudiciais à saúde. E um aquário pode ser de uma beleza deslumbrante!

Artigo por Jaime Pina


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