A cimeira do clima, o futuro e as doenças respiratórias


O dia 12 de dezembro de 2015 poderá ser considerado, no futuro, como o dia em que se começou a salvar a espécie humana de uma catástrofe global. Nesse dia, às 19 horas e 27 minutos, em Paris, após duas semanas de intensas negociações, foi aprovado um protocolo em que todas as nações se comprometem a reduzir as emissões dos gases com efeito estufa, de modo a permitir que a temperatura da atmosfera não vá além de 1,5 graus em relação ao que acontecia na era pré-industrial.

Dezoito anos antes, em 1997, no Japão, na cidade de Quioto, já tinha sido aprovado um outro protocolo com o objetivo de combater as alterações climáticas, então já indiscutíveis. Os compromissos deste protocolo nunca foram cumpridos, primeiro porque o documento não era vinculativo e, depois, porque teve a resistência dos países mais poluidores do mundo (EUA, China, Índia e Rússia) e a oposição dos países em desenvolvimento.

Três expressões entraram definitivamente no léxico e nas preocupações das pessoas neste início do século XXI: o efeito estufa, o aquecimento global e as mudanças climáticas.

O que é o efeito estufa?

A libertação para a atmosfera de milhões de toneladas dos gases resultantes da queima de combustíveis fósseis provoca um efeito denominado "efeito estufa" que leva à conservação e acumulação do calor produzido e refletido pela Terra, nas camadas mais baixas da atmosfera, provocando o tão falado "aquecimento global".

Este acontecimento surge na sequência de três realidades, em crescimento: o aumento demográfico (quanto mais pessoas maiores as necessidades energéticas, maior atividade industrial, maior poluição); o progressivo desenvolvimento de muitos países (quanto maior é o desenvolvimento, maior são as necessidades energéticas, com consequente aumento da emissão de gases com efeito estufa); a desflorestação progressiva (as árvores e a floresta são um "equipamento" muito eficaz na absorção do principal gaz com efeito estufa, o anidrido carbônico).

O aquecimento do planeta desde a era pré-industrial já está próximo de um grau centígrado e o acordo obtido em Paris tem como objetivo que se não ultrapasse os 1,5 graus.

O que são os gases com efeito estufa?

Os gases com efeito estufa são gases que resultam da combustão dos combustíveis fósseis: carvão, petróleo e seus derivados. Libertam-se para a atmosfera a partir da atividade das diversas indústrias e atividades, com realce para os transportes. Tratam-se, sobretudo, dos óxidos de carbono, com um particular realce para o anidrido carbónico, carbonetos e vapor de água. Outros elementos libertados, tais como, as partículas inaláveis ou os óxidos de azoto contribuem secundariamente para o problema e têm os seus principais impactos ao nível da saúde respiratória - são responsáveis, anualmente, por milhões de óbitos.

Está-se a dar cada vez mais atenção ao gás metano, gás que é libertado espontaneamente pela natureza mas que é produzido no âmbito da indústria pecuária, e tal como ao anidrido carbónico tem um poderoso efeito estufa.

Quais as consequências do aquecimento global?

O aquecimento global que já está a acontecer vai ter repercussões gravíssimas em todo o planeta. Vão derreter os glaciares e os gelos do Ártico e da Antártida, com a consequente elevação do nível dos oceanos e severo impacto nas comunidades e ecossistemas costeiros. Vão acontecer, com muito maior frequência, fenómenos meteorológicos extremos, tais como ondas de calor, chuvas torrenciais - com as inevitáveis inundações - secas, tempestades, furacões, etc. É a tão falada "mudança climática" que já estamos a viver e que terá maiores impactos em determinadas zonas do planeta, das quais a Península Ibérica é uma das referenciadas.

Todas estas alterações terão impacto na saúde?

Sim e muito significativos. Para além dos impactos diretos que acontecem, por exemplo, no contexto de tempestades, furacões e inundações, prevêem-se impactos através de fenómenos que serão cada vez mais frequentes, tais como secas, ondas de calor e incêndios florestais.

Aqui os problemas respiratórios serão os predominantes e os grupos populacionais mais afetados serão os mais frágeis: pobres, crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios crónicos.


Artigo por Jaime Pina
Fundação Portuguesa do Pulmão


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