Ressonar

Ressonar

Ressonar sempre foi incomodativo ? para quem ouve ? e, geralmente, não apercebido por quem ressona. Antigamente achava-se isto uma característica de alguns e motivo de comentários jocosos. Em fases mais avançadas, e ainda mais em pessoas obesas, era evidente uma grande sonolência diurna; ?sornas?, ?indolentes?, eram classificativos para os casos mais exuberantes! E, no entanto, o que essas pessoas tinham (têm), é um sono não reparador: dormiam e dormiam, sem conseguir descansar devidamente.

A obstrução das vias aéreas (sobretudo as superiores) e o relaxamento dessas estruturas (mais durante o sono) leva a uma dificuldade na passagem do ar e à necessidade de um esforço suplementar para respirar. Se a isso se juntar a posição de deitado de costas, ?com a barriga para o ar?, e se lhe juntarmos excesso de peso corporal, o trabalho para respirar aumenta. Deixa de ser suave e automático, e passa a ser necessário esforço ? muscular ? para respirar. Da mesma maneira que um cavador tem de fazer algumas pausas no seu trabalho, também aquele que está a respirar com esforço suplementar se cansa ? e de vez em quando, pára!

As apneias do sono ? paragens da respiração durante o sono ? frequentes e por vezes prolongadas, que tanto assustam os familiares quando se apercebem disso, conduzem a uma redução progressiva do oxigénio disponível e aumento do anidrido carbónico, além de eventuais taquicardias e elevações da tensão arterial.

Detectando a baixa do oxigénio, o cérebro alerta o organismo, provocando um quase despertar, e o retomar da respiração. Estes múltiplos acordares, interferem na qualidade do sono, que nunca chega a ser profundo. Sem sono reparador, o indivíduo vai dormindo (raramente chega a acordar completamente), mas não descansa o suficiente, acorda cansado e passa o dia com sono?

Se o ressonar e sonolência diurna são sinais de alerta, a avaliação das vias respiratórias superiores (obstruções nasais persistentes e alterações da orofaringe), bem como situações de obstrução brônquica crónica, como a DPOC, são necessárias para a sua eventual correcção.

Actualmente há um outro factor de suspeição das situações de apneia do sono a que se tem dado muita atenção: a hipertensão arterial (HTA), nomeadamente nos casos de mais difícil controle com o tratamento pode ser um sinal de que há, a complicar, um síndroma de apneia obstrutiva do sono (SAOS); nem sempre os sintomas são tão exuberantes como nos grandes ressonadores, e estas situações podem passar despercebidas.

Cerca de 30 a 40% dos hipertensos têm SAOS; estar atento aos sintomas sugestivos, e fazer um estudo do sono ? polissonogarfia ? permite detectar os casos e tratá-los com mais eficácia.

Artigo publicado em "A voz dos reformados" janeiro/fevereiro 2023
por Dr. José Miguel Carvalho


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